O conhecimento desta descoberta fez-me vir publicá-la aqui de imediato.
É que não é todos os dias que se descobre uma companheira da noite :-)
E esta é uma "senhora" companheira já que é uma orquídea, uma das flores que mais admiro pela sua beleza e exotismo.
Apresento-vos a exótica noturna Bulbophyllum Nocturnum:
Nas florestas tropicais da ilha da Nova Bretanha, perto da
Papuásia-Nova Guiné, botânicos descobriram uma orquídea que só abre as
suas pétalas de noite, a única até agora conhecida de um total de 25.000
espécies.
A orquídea nocturna, Bulbophyllum nocturnum,
“é o primeiro exemplo conhecido de uma espécie de orquídeas que,
consistentemente, abre as suas pétalas depois do anoitecer e as fecha de
manhã”, diz um comunicado dos Jardins Botânicos Reais de Kew, Londres.
O
especialista holandês Ed de Vogel visitava a ilha da Nova Bretanha
quando descobriu esta espécie de orquídea, numa floresta outrora
inacessível e agora marcada para ser abatida. Ed de Vogel foi autorizado
a recolher algumas orquídeas que agora estão a ser cultivadas no Horto
Botânico de Leiden.
Aos cuidados do botânico Art Vogel, as
plantas produziram botões. A abertura das flores era muito aguardada, já
que a planta pertence a um grupo que inclui espécies com flores de
aparências estranhas, lembrando insectos ou criaturas marinhas.
Mas
algo de errado estava a acontecer. Os botões murchavam assim que
alcançavam o tamanho ideal para se abrirem. Para tentar descobrir
exactamente o que se passava, Ed de Vogel levou as orquídeas para casa
e, para sua surpresa, o botão abriu às 22h e fechou-se às 10h da manhã
seguinte. As flores apenas duraram uma noite.
A descoberta, dos
Jardins de Kew e do Naturalis (Centro holandês para a Biodiversidade),
foi publicada na revista "Botanical Journal of the Linnean Society".
Apenas um número reduzido de plantas tem flores que se abrem à noite e fecham de manhã, entre elas o cacto Selenicereus grandiflorus.
“Há alguns cactos no deserto cujas flores abrem de noite para evitar as
elevadas temperaturas. Se abrissem de dia, apenas durariam segundos”,
disse hoje ao PÚBLICO Miguel Sequeira, presidente da ALFA (Associação
Lusitana de Fitossociologia), entidade que elaborou a primeira lista de
referência das plantas de Portugal, publicada há um ano.
Até
agora, não se conhecia nenhuma orquídea a desabrochar de noite. No
entanto, muitas são polinizadas por borboletas nocturnas, embora
mantenham as flores abertas durante o dia.
“Isto lembra-nos que
ainda há coisas surpreendentes por descobrir. Mas é uma corrida contra o
tempo para encontrar espécies como esta, que apenas ocorrem em
florestas tropicais primárias”, ainda não alteradas pelo homem, comentou
o especialista em orquídeas dos Jardins de Kew, André Schuiteman.
“Todos sabemos que essas florestas estão a desaparecer depressa. Por
isso é cada vez mais importante conseguir financiamento para ir ao
terreno e fazer estas descobertas.”
Os botânicos ainda não sabem por que razão a Bulbophyllum nocturnum adoptou a estratégia de desavrochar de noite. Contudo, os Jardins Kew têm algumas sugestões.
Os
investigadores chamam a atenção para a grande semelhança entre os
apêndices das flores da orquídea e determinados fungos. “Pode-se
especular se os polinizadores são moscas que normalmente se alimentam
desses fungos” e assim são atraídas pela orquídea.
“As orquídeas
em geral investem muita da sua energia na produção de flores muito
vistosas. Por isso gostamos tanto delas. Mas o número de grãos de pólen é
muito reduzido e, normalmente, são polinizadas só por uma ou duas
espécies. É uma estratégia muito arriscada. Se uma delas falha, a planta
estará comprometida”, disse Miguel Sequeira.
As orquídeas são,
talvez, a maior família de plantas do planeta, com 25.000 espécies
conhecidas para a ciência. Em Portugal ocorrem 56 espécies: três
endémicas na Madeira, duas endémicas nos Açores, duas endémicas no
Continente mas partilhadas na Península Ibérica, 48 nativas (próprias do
continente mas que também existem em outros territórios) e uma já
extinta (Dartylorhiza incarnata).
Fonte : PublicoPT
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