“Apesar
de todas as conquistas, continuamos machistas”, sustenta a historiadora Mary
Del Priore, autora de Histórias
Íntimas, entre outras três dezenas de livros sobre temas que envolvem a
condição da mulher na sociedade.
“Antes, queríamos ser perfeitas donas de casa.
Hoje, estamos escravas do corpo, do modelo Barbie de beleza. No fundo, a fonte
da nossa satisfação continua a mesma: ser um objeto de desejo
masculino”.
A
obrigação de ser uma dona de casa exemplar foi substituída pela obrigação de ser
impecável, acredita Mary.
“As mulheres se tornaram escravas do espelho”.
Mary
lembra que o “padrão Barbie” reproduz a estética das prostitutas francesas que
desembarcaram no Brasil no século XIX: loiras, altas, com seios fartos e magras.
“Um tipo de beleza que destoa da nossa cultura, da chamada morenidade”, explica
a historiadora.
“A miscigenação criou mulheres mais baixas, curvilíneas. Ter
como objetivo a Barbie destroça a auto-estima. Não é a toa que o Brasil é o
segundo país do mundo em cirurgias plásticas. Estamos sacrificando nossa
identidade física”.
Para
Mary, o culto à imagem é uma nova forma de submissão.
“No decorrer do século, a
brasileira se despiu nas revistas e nas praias, mas acabou cobrindo o corpo de
creme e silicone”, repete.
“A beleza não é mais vista como um conjunto de
qualidades que incluem a elegância, o olhar, o charme. A exigência completamente
esquizofrênica de um padrão único de beleza aparece ao mesmo tempo que as
academias de ginástica, nos anos 70. No passado, a velhice era um sinal de
sabedoria. Hoje, o corpo causa ansiedade e frustração”.
No decorrer deste século, a brasileira se despiu. O nu, na tevê, nas revistas e nas praias incentivou o corpo a se desvelar em público. A solução foi cobri-lo de creme, colágeno e silicone. O corpo se tornou fonte inesgotável de ansiedade e frustração. Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do inferno, mas a balança e o espelho. É uma nova forma de submissão feminina. Não em relação aos pais, irmãos, maridos ou chefes, mas à mídia. Não vemos mulheres liberadas se submeterem a regimes drásticos para caber no tamanho 38? Não as vemos se desfigurar com as sucessivas cirurgias plásticas, se negando a envelhecer com serenidade? Se as mulheres orientais ficam trancadas em haréns, as ocidentais têm outra prisão: a imagem.
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