O risco de saída de Portugal do euro tem associados múltiplos riscos,
dos quais gostaria de salientar três: o risco do colapso temporário do
sistema de pagamentos, o risco do colapso temporário do sistema de
distribuição de produtos e o risco de perda – definitiva – de valor de
inúmeros activos (depósitos à ordem e a prazo, obrigações, acções e
imobiliário, entre outros).
Considero que todos os portugueses devem “subscrever” seguros contra
estes riscos, tal como fazem um seguro contra o incêndio da sua própria
casa. Quando se compra este seguro, o que nos move não é a expectativa
de que a nossa casa sofra um incêndio nos meses seguintes, um
acontecimento com uma probabilidade muito baixa, mas sim a perda
gigantesca que sofreríamos se a nossa habitação ardesse.
Quais são as consequências imediatas de Portugal sair do euro? A nova
moeda portuguesa (o luso?) sofreria uma desvalorização face ao euro de,
pelo menos, 20%. Todos os depósitos bancários seriam imediatamente
transformados em lusos, perdendo, pelo menos, 20% em valor. Todos os
depósitos ficariam imediatamente indisponíveis durante algum tempo
(dias? semanas?) e não haveria notas e moedas de lusos, porque o nosso
governo e o Banco de Portugal não consideram necessário estarmos
preparados para essa eventualidade.
O mais provável é que a saída do euro fosse anunciada numa sexta-feira à
tarde, havendo apenas o fim-de-semana para tratar da mudança de moeda.
Logo, na sexta-feira os bancos retirariam todas as notas de euros das
máquinas de Multibanco e quem não tivesse euros em casa ou na carteira
ficaria sem qualquer meio de pagamento.
Durante algumas semanas (ou mais tempo) teríamos um colapso do sistema
de pagamentos e, provavelmente, também um corte nos fornecimentos. As
mercearias e os supermercados ficariam incapazes de se reabastecer,
devido às dificuldades associadas à troca de moeda.
Estes “seguros” de que falo, contra este cenário catastrófico, não
podem ser comprados em nenhuma companhia de seguros, mas podem ser
construídos por todos os portugueses, estando ao alcance de todos,
adaptados à sua realidade pessoal.
O que recomendo é algo muito simples que – todos – podem fazer. Ter em
casa dinheiro vivo num montante da ordem de um mês de rendimento e a
despensa cheia para um mês. Esta ideia de um mês de prevenção é
indicativa e pode ser adaptada à realidade de cada família. Não
recomendo que façam isso de forma abrupta, mas lentamente e também
em função das notícias que forem saindo. De cada vez que levantarem
dinheiro, levantem um pouco mais que de costume e guardem a diferença.
De cada vez que fizerem compras tragam mais alguns produtos para a
despensa de reserva. Aconselho que procurem produtos com fim de validade
em 2013 ou posterior, mas, nos casos em que isso não seja possível, vão
gastando os produtos de reserva e trocando-os por outros com validade
mais tardia. Desta forma, sem qualquer ruptura, vão construindo
calmamente os vossos seguros contra o fim do euro.
Quanto custará este seguro? Pouquíssimo. Em relação ao dinheiro de
reserva, o custo é deixarem de receber os juros de depósito à ordem, que
ou são nulos ou são baixíssimos. Em relação aos produtos na despensa de
reserva, é dinheiro empatado, que também deixa de render juros
insignificantes.
Quais são os benefícios deste seguro? Se o euro acabar em 2012, como
prevejo, o dinheiro em casa não se desvaloriza, mas o dinheiro no banco
perderá, no mínimo, 20% do seu valor. Além disso terá o benefício de
poder fazer pagamentos no período de transição, que se prevê
extremamente caótico. A despensa também pode prevenir contra qualquer
provável ruptura de fornecimentos, garantindo a alimentação essencial no
período terrível de transição entre moedas. Parece-me que o benefício
de não passar fome é significativo.
E se, por um inverosímil acaso, a crise do euro se resolver em 2012 e
chegarmos a 2013 com o euro mais seguro do que nunca? Nesse caso –
altamente improvável – a resposta não podia ser mais simples: basta
depositar no banco o dinheiro que tem em casa e ir gastando os produtos
na despensa à medida das suas necessidades.
Por Pedro Braz Teixeira,
Investigador do NECEP da Universidade Católica
no I, de 1 de Fevereiro de 2012
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Nota minha : Como o seguro morreu de velho e o desconfiado ainda hoje é vivo, eu já comecei a salvaguardar-me com as medidas possíveis.
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