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É hora de
admitir que o euro fracassou
Fim da moeda
comum da União Europeia é inevitável e investidores e países precisam
preparar-se.
Manutenção do euro tornou-se insustentável para países da União Europeia (Reprodução/Economist)
Um
grande editor certa vez disse que as grandes notícias não surgem, elas vazam.
O fim do euro – a moeda de 17 dos 27
países da União Europeia – é uma dessas histórias. E cada vez que ela vaza,
o mercado de ações dos Estados Unidos cai.
O colapso do euro, de uma maneira ou
de outra, é inevitável, e quando ele vier, bancos em redor do mundo sofrerão um
abalo e mercados de ações despencarão.
Investidores espertos devem estar
preparados para saber tirar proveito desse cenário.
Na
última semana, uma nova série de rumores de uma moratória grega surgiu, e o
principal membro alemão do Banco Central Europeu inexplicavelmente se demitiu.
Como consequência, a Dow Jones terminou a semana mais de 600 pontos abaixo do
nível registrado oito dias antes, quando a situação da Grécia parecia
momentaneamente melhor.
Académicos,
jornalistas e mesmo membros do governo propuseram uma infinidade de planos para
salvar o euro – novas instituições financeiras europeias, títulos europeus sustentados coletivamente por todos os países, e até mesmo os Estados Unidos da
Europa.
Mas está claro que tais planos de salvação não encontrarão apoio
político nos dias de hoje.
O fim do euro provavelmente será extremamente
doloroso, mas as alternativas mostram-se ainda piores.
Para
entender o porquê disso, é necessário entender porque os países europeus
adotaram o euro.
Deixando de lado promessas de solidariedade e todo o discurso
sobre uma Europa única e livre, o euro surgiu porque ajudou a cuidar das
necessidades de vários países.
Sim, uma moeda comum facilitou o comércio e
eliminou custos desnecessários de transações.
E sim, o euro foi parte de uma
tendência admirável que apontava para a interdependência, a cooperação e a
liberdade de movimentação na Europa.
Mas acima de tudo, o euro era uma maneira
de resolver problemas práticos.
Países como Portugal, Irlanda e
Grécia, por exemplo, puderam pegar enormes quantias de dinheiro emprestadas a
juros baixos para financiar seu desenvolvimento.
A
França conseguiu preservar seu sistema altamente centralizado impondo a
burocracia aos seus rivais econômicos.
A Alemanha parece ser o bom vizinho, tendo
aberto mão de seu forte marco em nome da unidade continental e depois tendo que
arcar com uma porção desproporcional dos custos quando tudo deu errado.
Mas o
país foi motivado pela lógica econômica.
A Alemanha e outros países do norte da
Europa, como a Holanda, são enormes exportadores.
Para eles, a manutenção dos
baixos índices de desemprego exige exportações sólidas, o que se torna difícil
se suas moedas se valorizam.
Na semana passada a Suíça viu-se obrigada a
estabelecer um teto no valor do franco suíço porque produtos suíços estavam a
tornar-se muito caros para os estrangeiros.
(Reprodução/Internet)
A
brilhante solução alemã foi aliar-se às economias mais fracas por meio do euro,
impedindo que a moeda se valorizasse demais.
Na prática, a Alemanha estava
a subsidiar consumidores italianos, espanhóis e gregos para que comprassem
produtos alemães caros, evitando reduções na manufatura alemã. Isso fez muito
sentido enquanto o custo de elevar as economias mais fracas não era tão alto.
Mas agora a Alemanha vê-se frente a frente com a possibilidade de enormes e
infinitos pagamentos que superam em muito os benefícios
econômicos.
Enquanto
isso, outros países da zona do euro também começam a sentir que o euro deixou de
ser uma bênção e passou a ser um fardo, mas por razões diferentes.
A Grécia e a
Itália estão a ser obrigadas a fazer duros cortes.
A França e a Alemanha
chegaram a sugerir que os 17 países da zona do euro adotassem emendas de
equilíbrio orçamentário – uma ideia descrita como insana ou fanática nos Estados
Unidos, quando proposta pelo Tea Party.
A
verdade é que, no momento atual, nem os fortes nem os fracos se beneficiam com o
euro.
Mas separações são difíceis, e quatro cenários são possíveis, um deles
mais provável que os outros:
1 – A
política atual simplesmente continua. Isso
acontecerá num curto prazo, é claro, mas não poderá manter-se por muito tempo.
Quando a dívida atingir um certo nível, ela se tornará incapaz de ser paga. A
Grécia provavelmente já atingiu esse estágio, e a Espanha e a Itália parecem
caminhar para lá. A Alemanha reclama dos resgates financeiros, e em algum
momento será incapaz de financiá-los, independentemente de sua
vontade.
2 – Um
sistema financeiro europeu é criado. A
unificação é a única solução de longo prazo que garantiria a sobrevivência da
zona do euro. Mas isso significaria que países como a Grécia, a Itália e a
Espanha teriam que obedecer à Alemanha em termos financeiros. E isso também
obrigaria países como a França a fazer com que suas identidades nacionais
desaparecessem sob um superestado europeu. A Alemanha dispôs-se a gastar
dinheiro quase sem limites para incorporar a Alemanha Oriental após a
reunificação. Mas outras lealdades locais na Europa ainda são mais fortes que
qualquer identidade continental. Essa possibilidade é bastante
improvável.
3 – Os
países fortes expulsam a Grécia e outros países fracos da zona do
euro. Esse é
o cenário mais provável. Nele, os países mais fortes da zona do euro resgatam os
mais fracos e exigem cortes de gastos até que a resistência de um lado ou de
outra força uma moratória. Nesse caso, os países endividados seriam expulsos da
zona do euro. Esse cenário produziria uma série de problemas. O país endividado
teria problemas de crédito e, portanto, custos de empréstimos mais altos, por
uma década. E como suas dívidas são em euros, haveria pouco alívio. Os países
ricos da Europa arcariam com boa parte do fardo financeiro, seja pagando os
custos de uma reestruturação ou resgatando bancos por todo o continente que
mantivessem a dívida. Por pior que isso possa soar, esse continua sendo o
cenário mais provável, porque é o que exige menos liderança, e de fato, a
Alemanha já se prepara para essa situação.
4 – A
Alemanha e outros países fortes deixam a zona do euro. Esse
não é um cenário provável, mas sem dúvida seria a melhor solução para todos os
envolvidos. Alemanha, Holanda e um par de outros exportadores financeiramente
fortes poderiam deixar a zona do euro de maneira unilateral e criar sua nova
moeda. O euro iria desvalorizar-se, tornando os países que permanecessem na zona
do euro mais competitivos, e reduzindo o valor de suas dívidas nacionais,
criando um alívio econômico quase que imediato. Essa solução foi apresentada há
dois anos por Ambrose Evans-Pritchard, mas ainda não é discutida por políticos
europeus. A ideia de uma Alemanha financeiramente dominante, cercada por
satélites é considerada perturbadora por razões históricas. Em uma versão mais
sutil dessa estratégia, a Polônia, a Eslováquia e a República Tcheca poderiam
ser incluídas para segurar a valorização da nova moeda. Se a Alemanha será
responsável pelo resgate econômico de alguém, que seja de países que garantem
contratos baratos à indústria alemã. É só evitar que a nova moeda se chame
Deutsches Reich.
É
importante notar que um sistema financeiro unificado na Europa poderia
procrastinar a crise do euro indefinidamente, e essa está longe de ser a melhor
solução. Todas as outras soluções levariam a uma moratória, e custos que cairiam
sobre os bancos, cujas ações despencariam ainda que eles fossem resgatados. Já
para os especuladores há uma possibilidade de aproveitar o colapso, como com a
venda de ações de bancos. Mas para a maioria dos investidores individuais não há
muito a fazer senão guardar dinheiro.
As
oportunidades de investimento surgirão de compras realizadas após uma moratória
ou alguma nova crise. É bastante provável que algo termine a dar errado, e
quando isso acontecer, todos saberão. Se as ações norte-americanas despencarem –
lembre-se do que aconteceu com a Dow durante as vendas de 2009 – vários estarão
a cogitar comprá-las, entre eles a Chevron e a Exxon, se o preço do petróleo
cair mais graças aos temores de uma nova recessão global.
Por
Michael
Sivy*
*Analista
financeiro e radialista.
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