Bradley Manning, traidor ou herói por revelar segredos de diplomatas dos EUA?
Para alguns, Bradley Manning, o militar acusado de ser a fonte do WikiLeaks, é um herói que deve ser defendido a qualquer custo, enquanto para outros, como o ex-diplomata americano John Bolton, é um traidor que deveria ser executado.
Se Hollywood já tiver começado a trabalhar em um filme sobre o vazamento de segredos diplomáticos feito pelo WikiLeaks, o mais provável é que a trama seja focada em dois hackers, um bom e outro mau, e caberá ao espectador decidir quem é quem.
Um dos hackers é o soldado Bradley Manning, o suposto autor do roubo e vazamento de centenas de milhares de documentos confidenciais e secretos dos Estados Unidos que estão sendo divulgados em etapas pelo site do WikiLeaks.
O outro é Adrian Lambo, que delatou Manning às autoridades americanas depois que o militar lhe contou o material que tinha em mãos e o que planejava fazer com ele.
"Hillary Clinton e os milhares de diplomatas no mundo todo vão sofrer um ataque do coração quando acordarem um dia e descobrirem que todo um arsenal de mensagens confidenciais está disponível ao público", escreveu Manning para Lambo quando o contatou em Maio deste ano.
O relato da relação entre os dois foi reproduzido em Junho pela revista americana "Wired", que teve acesso aos "logs" (expressão empregada para descrever o processo de registro dos computadores) das conversas virtuais entre os hackers.
Para uns, Manning é o vilão do filme, que pôs em risco a vida de milhares de pessoas e causou um golpe sem precedentes na política externa dos Estados Unidos, tanto com países amigos como com inimigos.
Um dos que consideram Manning o personagem maquiavélico da trama é o antigo embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, que está disposto a assassinar o soldado com suas próprias mãos.
Em declarações à "National Review Online", Bolton afirmou: "Acho que a traição continua sendo punida com a morte e se ele fosse declarado culpado, eu o executaria".
Bolton considera que o vazamento de documentos (até agora foram divulgados menos de 300 dos 251.287 que estão em poder do WikiLeaks) "muito nocivo" porque abala a capacidade dos diplomatas de fazer avaliações honestas.
O ex-governador do Arkansas e ex-candidato à Presidência Mike Huckabee também considera que a pessoa que filtrou os documentos é um "traidor" e "deve ser executado".
Paradoxalmente, em suas conversas com Lambo, Manning também se questiona se suas ações seriam consideradas desonestidade.
"Se você tivesse um acesso sem precedentes a redes confidenciais durante 14 horas por dia, sete dias por semana durante mais de oito meses, o que faria?", perguntou a Lambo.
Mas Manning parecia decidido sobre o que fazer após ressaltar que as mensagens às quais tinha acesso continham "coisas incríveis, coisas horrorosas que devem ser de domínio público e não ficar em um servidor armazenado em um quarto escuro de Washington".
Para isso, planejou uma maneira simples de extrair da maior superpotência do mundo seus segredos impublicáveis.
"Chegava com um CD com a capa de alguém como Lady Gaga, apagava as músicas e gravava um arquivo comprimido em partes", explicou.
"Eu escutava e movimentava os lábios no ritmo da canção 'Telephone' enquanto preparava o maior vazamento de dados da história americana", acrescentou Manning.
O militar, que na época tinha 23 anos, estava alocado na Base Operacional Avançada Hammer, a cerca de 60 quilômetros ao leste de Bagdá, e tinha acesso a duas redes confidenciais do Governo americano, a Siprnet (Secret Internet Protocol Router Network) e a Joint Worldwide Intelligence Communications System.
Quando Manning lhe disse, no final de Maio, que tinha enviado os documentos ao WikiLeaks, Lambo, um hacker que em 2004 se declarou culpado por invadir os sistemas do "The New York Times" e sofre da Síndrome de Asperger (um tipo de autismo), chamou o FBI.
A denúncia fez com que para alguns Lambo seja o vilão do filme, pois um dia depois, Manning foi preso e, em Junho, acusado pelas autoridades militares americanas de descumprir o Código Militar.
Entre os que consideram Lambo como o vilão da trama está um grupo de cidadãos americanos que cresce a cada dia e criou a "Rede de Apoio a Bradley Manning", que solicitou sua liberdade.
No entanto, talvez a realidade seja mais complexa. Lambo, por exemplo, que foi condenado a seis meses de prisão domiciliar por suas aventuras como hacker no início dos anos 2000, doou dinheiro para que o WikiLeaks mantivesse suas operações.
Seja quem for o bandido e o mocinho do filme, Manning está a 189 dias preso em uma base militar na Virgínia e foi condenado a 52 anos de prisão.
Os Estados Unidos enfrentam uma crise diplomática jamais vista provocada por um jovem soldado de 23 anos armado com um CD com músicas de Lady Gaga.
Enquanto isso, a imprensa americana começa a especular sobre as razões de Manning para "trair" seu país: um rapaz tímido, com problemas de relações sociais ou um gênio da informática que não se encaixava no Exército por sua condição de homossexual?
Fonte: Notícias Uol
Conheça a história familiar do soldado :
O pai de Manning, soldado americano, conheceu a mãe, do País de Gales, quando ali esteve em serviço. Quando fez 13 anos, os pais se separaram e Manning voltou a Inglaterra.
Aos 16, deixou a escola e regressou aos Estados Unidos, onde trabalhou no balcão de uma pizzaria.
Aos 18, alistou-se no Exército e, em seguida, foi designado analista da inteligência militar.
É a biografia de uma pessoa comum.
O que eu penso:
Em vez de corrigir a forma de actuar dos seus diplomatas para não serem hipócritas, o Pentágono optou por desmoralizar o soldado.
Agora diz que Bradley sempre foi problemático, com sérios desvios de comportamento.
Se ele era realmente assim, como é que o designaram ainda tão jovem, para analisar informações secretas? Relatórios mais recentes dizem que foi punido, rebaixado da classificação de “especialista” para a de simples soldado, depois de incidente com um colega de farda. Insinuam também que essa conduta deriva de sua condição de homossexual.
Homossexual, ou não, o diálogo com o ex-hacker Álamo, que se celebrizou em 2002, ao entrar no sistema digital do New York Times, revela um jovem de grande sensibilidade humana, com preocupação humanística universal, mas nem por isso menos patriótica.
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